Os anos passam e nota-se pouca evolução na política republicana, se é que ela realmente evolui. Eis que confirma a tese o derrame de santinhos na porta das escolas que abrigam as seções eleitorais e suas famigeradas urnas eletrônicas (um caso à parte).
O eleitor obrigado ao sufrágio dirige-se aos locais de votação como gado resignado no tenebroso trajeto sem saída ao abatedouro. O dissabor da circunstância cerceadora da liberdade de consciência é agravado pelo acúmulo de santinhos jogados na calçada.
Na estiagem da eleição passada, uma idosa escorregou nos folhetos e se machucou severamente. Este ano, ocorreu o inverso. A chuva molhou os santinhos. Aglutinou e dissolveu a celulose. O desfecho foi uma papa endurecida, resistente aos esfregões.
Além de emporcalhar a cidade, o volume gerado pelos homens públicos e seus cabos eleitorais pode entupir a rede de escoamento de águas pluviais. Se ainda candidato promove a sujeira, imaginam-se as barbaridades que poderá fazer ou permitir quando se tornar uma poderosa autoridade.
Esses inconscientes são covardes e oportunistas. Conspurcam a cidade à sorrelfa, no ermo da madrugada. Buscam angariar benefício eleitoral ilegal, pois o derrame de santinhos é propaganda irregular. Os candidatos alegam desconhecimento da atitude dos correligionários, mas são responsáveis por seu material de campanha.
Ora, quem pretende controlar os rumos da nação deveria ser capaz de governar ao menos a postura de seus apoiadores. Chega a ser simbólico ver o mar de lama tomar forma já durante o pleito. Nem o partido que se diz novo escapou da tentação de agir como os de sempre.
Espanto mesmo causou, entre as fotografias nos folhetos, a identificação do vice-prefeito pretendente a deputado e do ambientalista candidato ao senado. Afinal, atividade poluidora contradiz a pretensa defensa da Natureza e à autoridade local compete substituir o chefe do Executivo para comandar a limpeza urbana, se necessário.
Só agiu coerentemente no derrame de santinhos a chapa vermelha para deputados, posto que apoiada por político afonsino ficha suja. Piada pronta, anedota triste.
O eleitor corretamente duplica sua colinha. Se alguém do plano A sujar a rua, vote no plano B.