Alguns leitores apostaram que o feriado e a eleição renderiam nesta coluna um texto com diatribes dirigidas ao regime incoerente em que se submeteu o Brasil ou ao bizarro concurso de popularidade que caracteriza o dito festival democrático.
Contudo, o que não tem remédio remediado está. Deixam-se de lado essas questões, pois este valioso espaço hoje trata de análise relevante, em busca de aprimoramento da qualidade de vida urbana aos habitantes afonsinos, já enredados em tantos problemas.
Três idosos ocuparam um banco de praça. Imagem corriqueira, ninguém se alertou. À sombra das copas centenárias, passaram o dia em agradável conversa. Na semana seguinte, acrescentou-se um quarto ancião, padecente de alcoolismo, mas apenas uma reunião informal de amigos.
Pouco tempo se passou, esse quarto veterano do álcool trouxe à tiracolo do boteco seus amigos mais jovens de pinga. O grupo cresceu e o diabo já tinha arregimentado seus doze apóstolos. O banco era insuficiente para todos, se esparramaram pelo canteiro limítrofe.
Alguns estavam tão alterados pelo uso abusivo de bebidas fortes, que desmaiaram e passaram o dia deitados na calçada. Um só levantou na manhã seguinte, com o barulho do trânsito e das portas dos comércios se abrindo. O pernoite foi se tornando constante, agregaram-se mendigos.
Referidos moradores de rua apreciaram os canteiros altos do miolo da praça, que funcionavam como mureta de proteção às intempéries. Decidiram se instalar em definitivo. O que um dia foi praça virou hotel a céu aberto. O serviço de quarto é servido pelas turmas do sopão.
A comida farta e gratuita, garantida ao cair da noite, foi um diferencial irresistível às damas viciadas na pedra do demônio. Alimentam-se e aproveitam o ensejo para unir o útil ao agradável: para fazer um programinha com os mendigos, bastou estender uma lona velha, do canteiro ao solo.
Onde havia praça, hoje é só lixo. Por humanidade e racionalização do serviço, a equipe de limpeza não invade a suíte desses cidadãos, que ostentam na plenitude seu direito de locomoção: ir e vir, bem como permanecer, no espaço tornado fétido, mas que um dia foi público.